Ana Jácomo
"Que Deus ouça as preces que lhe dirijo quando estou mansidão e ternura.
Quando estou contemplação e respeito.
Quando as palavras fluem, sem esforço algum, sem ensaio algum, articuladas e belas,
do lugar em mim onde eu e ele nos encontramos e brincamos de roda.
Quando nelas incluo as pessoas que têm nome e aquelas que desconheço existirem.
E os meus amores. E os meus desafetos. E os bichos. E as plantas. E os mares. E as estrelas.
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E que Deus ouça as preces que lhe dirijo quando o medo me acompanha
sem que a coragem se ausente.
Quando as coisas seguem o seu rumo sem que eu me preocupe em demasia
com o destino desse movimento.
Quando eu me sinto conectada com o amor e reverente à vida.
Quando as lágrimas nascem apenas de um alegre e comovido sentimento de gratidão.
Quando caminho com a rara confiança que só as crianças que ainda não doem costumam experimentar, já que, infelizmente, algumas começam a doer muito cedo.
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Que Deus ouça as preces que lhe dirijo quando sou capaz de pressentir o sol
mesmo atravessando uma longa noite escura.
Quando posso cruzar desertos com a clara convicção de que a vida não é feita somente deles. Quando consigo olhar para todas as experiências,
sem que aquelas que me desconcertam me impeçam de valorizar as que me encantam. Quando as tristezas que repentinamente me encontram
não atrapalham a certeza da sua impermanência.
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Que Deus ouça as preces que lhe dirijo quando amanheço revigorada e anoiteço tranquila. Quando consigo manter uma relação mais gentil com as lembranças difíceis que, às vezes, ainda me assombram.
Quando posso desfrutar do contentamento
mesmo sabendo que existem problemas que aguardam eu me entender com eles.
Quando não peço nada além de força para prosseguir, por acreditar que, fortalecida,
eu posso o que quiser, em Deus."
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