domingo, 22 de novembro de 2009

A solidariedade é! por Rubem Alves


“Se te perguntarem quem era essa que às areias e aos gelos quis ensinar a primavera…”: é assim que Cecília Meireles inicia um de seus poemas. Ensinar primavera às areias e aos gelos é coisa difícil. Gelos e areias nada sabem sobre primaveras… Pois eu desejaria saber ensinar a solidariedade a quem nada sabe sobre ela. O mundo seria melhor. Mas como ensiná-la?
Será possível ensinar a beleza de uma sonata de Mozart a um surdo? E poderei ensinar a beleza das telas de Monet a um cego? De que pedagogia irei me valer? Há coisas que não podem ser ensinadas, coisas que estão além das palavras. Cientistas, filósofos e professores são aqueles que se dedicam a ensinar as coisas que podem ser ensinadas por meio das palavras. Sobre a solidariedade muitas coisas podem ser ditas. É possível desenvolver uma psicologia da solidariedade, ou uma sociologia da solidariedade, ou uma ética da solidariedade… Mas os saberes científicos e filosóficos sobre a solidariedade não ensinam a solidariedade, da mesma forma como as críticas da música e da pintura não ensinam a beleza da música e da pintura. A solidariedade, como a beleza, é inefável – está além das palavras.
Palavras que se ensinam são gaiolas para pássaros engaioláveis. Mas a solidariedade é um pássaro que não pode ser engaiolado. Não pode ser dita. A solidariedade pertence à classe de pássaros que só existem em vôo. Engaiolados, eles morrem.
Walt Whitman tinha consciência disso quando disse: “Sermões e lógicas jamais convencem. O peso da noite cala bem mais fundo em minha alma…” E Fernando Pessoa sabia que aquilo que o poeta quer comunicar não se encontra nas palavras que ele diz: ela aparece nos espaços vazios que se abrem entre elas, as palavras. Nesse espaço vazio se ouve uma música. Mas essa música – de onde vem ela se não foi o poeta que a tocou?
O que pode ser ensinado são as coisas que moram no mundo de fora: astronomia, física, química, gramática, anatomia, números, letras, palavras. Mas há coisas que não estão do lado de fora, coisas que moram dentro do corpo. Estão enterradas na carne, como se fossem sementes à espera…
Sim, sim! Imagine isto: o corpo como um grande canteiro! Nele se encontram, adormecidas, em estado de latência, as mais variadas sementes. Elas poderão acordar, como a Bela Adormecida acordou com um beijo. Mas poderão também não brotar. Tudo depende…
As sementes não brotarão se sobre elas houver uma pedra. E também pode acontecer que, depois de brotar, elas sejam arrancadas… De fato, muitas plantas precisam ser arrancadas, antes que cresçam: as pragas, tiriricas, picões… Uma dessas sementes é a “solidariedade”. A solidariedade não é uma entidade do mundo de fora, ao lado de estrelas, pedras, mercadorias, dinheiro, contratos. Se ela fosse uma entidade do mundo de fora poderia ser ensinada e produzida. A solidariedade é uma entidade do mundo interior. Solidariedade nem se ensina, nem se ordena, nem se produz. A solidariedade tem de brotar e crescer como uma semente…
Veja o ipê florido! Nasceu de uma semente. Depois de crescer não será necessária nenhuma técnica, nenhum estímulo, nenhum truque para que ele floresça. Angelus Silesius, místico antigo, tem um verso que diz: “A rosa não tem porquês. Ela floresce porque floresce”. O ipê floresce porque floresce. Seu florescer é um simples transbordar natural da sua verdade.
A solidariedade é como o ipê: nasce e floresce. Mas não em decorrência de mandamentos éticos ou religiosos. Não se pode ordenar: “Seja solidário!” A solidariedade acontece como um simples transbordamento: as fontes transbordam…
Já disse que solidariedade é um sentimento. É esse o sentimento que nos torna humanos. A solidariedade me faz sentir sentimentos que não são meus, que são de um outro. Acontece assim: eu vejo uma criança vendendo balas num semáforo. Ela me pede que eu compre um pacotinho das suas balas. Eu e a criança – dois corpos separados e distintos. Mas, ao olhar para ela, estremeço: algo em mim me faz imaginar aquilo que ela está sentindo. E então, por uma magia inexplicável, esse sentimento imaginado se aloja junto dos meus próprios sentimentos. Na verdade, desaloja meus sentimentos, pois eu vinha, no meu carro, com sentimentos leves e alegres, e agora esse novo sentimento se coloca no lugar deles. O que sinto não são meus sentimentos. Foram-se a leveza e a alegria que me faziam cantar. Agora, são os sentimentos daquele menino que estão dentro de mim. Meu corpo sofre uma transformação: ele não é mais limitado pela pele que o cobre. Expande-se. Ele está agora ligado a um outro corpo que passa a ser parte dele mesmo.
Isso não acontece nem por decisão racional, nem por convicção religiosa, nem por um mandamento ético. É o jeito natural de ser do meu próprio corpo, movido pela solidariedade. Pela magia do sentimento de solidariedade meu corpo passa a ser morada do outro. É assim que acontece a bondade.
O menino me olhou com olhos suplicantes.
E, de repente, eu era um menino que olhava com olhos suplicantes…
"
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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A paz no mundo


"A paz no mundo começa dentro de mim
quando eu me aceito, de corpo e alma,
e reconheço meus defeitos, com paciência e calma,
e em vez de me fragmentar em mil pedaços
eu me coloco inteiro no que penso, sinto e faço
passageiro no tempo e no espaço,
sem nada para levar que possa me prender
sem medo de errar
e com toda vontade de aprender.
A paz no mundo começa entre nós
quando eu aceito o teu modo de ser
sem me opor ou resistir
e reconheço tuas virtudes sem te invejar ou me retrair,
e faço das nossas diferenças a base da nossa convivência
e em lugar de te dividir em mil personagens
consigo ver-te inteiro, nu, real,
sem nenhuma maquiagem,
companheiros da mesma viagem
no processo de aprendizagem do que é ser gente.
A paz no mundo começa quando as palavras se calam
e os gestos se multiplicam,
quando se reprime a vergonha e se expressa a ternura,
quando se repudia a doença e se enaltece a cura,
quando se combate a normalidade que virou loucura
e se estimula o delírio de melhorar a humanidade,
de construir uma outra sociedade,
com base numa outra relação,
em que amar é a regra, e não mais a exceção."

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Um velho índio descreveu certa vez em seus conflitos internos: "Dentro de mim existem dois cachorros, um deles é cruel e mau, o outro é muito bom e dócil. Os dois estão sempre brigando..." Quando então lhe perguntaram qual dos cachorros ganharia a briga, o sábio índio parou, refletir e respondeu: "Aquele que eu alimentar".
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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Porque os Verdadeiros Amigos Nos Fazem Chorar?


"Antes eu pensava que os verdadeiros amigos
jamais deveriam nos fazer chorar.
Sim, deveria ser proibido.
Até porque, ver um amigo chorar,
nos faz chorar também
e a vida é feita pra ser vivida com alegria.
Mas vou aprendendo no dia-a-dia que ainda tenho
um longo caminho de aprendizado pela frente.
E então vou descobrindo devagarinho,
tal qual a madrugada vai descobrindo o dia,
porque os verdadeiros amigos
nos causam lágrimas.
Eles são, nessa forma de amor universal e múltipla,
as pessoas que conseguem entrar
dentro do nosso coração e tocá-lo.
E tocam assim, com tanta sutilidade e fineza,
que é nossa alma que atingem,
é nossa sensibilidade que vem recebê-los.
Daí as lágrimas...
porque tudo o que é grande,
inestimável e incompreensível no mundo
arranca de nós esse sentimento de espanto.
Ah, sim... eles nos fazem chorar
quando a saudade é tão grande
que não encontramos palavras para explicá-la.
Ou ainda, quando queremos imensamente
estar na sua presença e tudo o que encontramos
são as lembranças do passado.
Ou quando nos arrancam bruscamente
risos e lágrimas ao mesmo tempo
lembrando do tempo bom e do que a vida carregou.
Os verdadeiros amigos distanciam-se,
mudam-se, casam-se,
mas continuam insistentemente e maravilhosamente,
diria eu, a habitar nosso coração.
E as lágrimas que nos invadem como chuvas repentinas
não são de tristeza,
elas são a forma como nosso coração se expressa
para mostrar o quanto o outro ainda está vivo
e eternamente apegado à nossa alma.
Lágrimas que nascem assim são benditas.
São parte da nossa oração de agradecimento a Deus
por ter transformado em amigos
esses anjos que vêm iluminar nossa existência."
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terça-feira, 17 de novembro de 2009


"Em vez de serem apenas bons, esforcem-se para criar um estado de coisas que torne possível a bondade; em vez de serem apenas livres, esforcem-se para criar um estado de coisas que liberte a todos!" Bertolt Brecht, dramaturgo, ALE, 1889-1956
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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Quando evoluímos?



Paulo Roberto Gaefke

Quando mudamos?
Quando encontramos prazer em servir,
em ser útil.
Quando amadurecemos?
Quando a ofensa já não nos ofende,
o orgulho é morto.
Quando amamos?
Quando todos se tornam iguais
diante das nossas atitudes.
Quando sofremos?
Quando nos apegamos aos bens
perecíveis do mundo.
Quando nos iludimos?
Quando acreditamos que estamos prontos,
maduros e seguros.
Quando aprendemos?
Quando a lição, seja pelo amor ou pela dor,
retifica o nosso agir.
Quando conquistamos?
Quando marcamos na alma de alguém
com um gesto amoroso.
Quando morremos?
Quando desprezamos a oportunidade de servir.
Quando nos tornamos cristãos?
Quando o Cristo vive em nossas atitudes,
quando deixamos de falar em Jesus,
e praticamos o que Ele deixou de lição.
Quando seremos felizes?
Quando nossas mãos calejadas ou não pelo trabalho,
servir mais para levantar o irmão caído,
do que para atirar pedras.
Quando descruzarmos os braços
diante do sofrimento alheio,
quando a humildade for a companheira
mais constante.
Quando descobrirmos finalmente,
que somos todos passageiros do mesmo barco,
movidos pelos remos das nossas atitudes.
Por isso,
por onde você passar, leve esperança,
seja o que consola, e será consolado.
Seja o que ampara, e será amparado.
Seja o amor, e será amado,
seja o que reconcilia
e será ligado no céu,
tudo o que você ligar na Terra.
"O olho é a lâmpada do corpo.
Se teu olho é bom,
todo o teu corpo se encherá de luz.
Mas se ele é mau,
todo teu corpo se encherá de escuridão.
Se a luz que há em ti está apagada,
imensa é a escuridão."
Jesus (Mateus 6.22-23)
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quarta-feira, 4 de novembro de 2009


Repare que, muitas vezes, um pequenino gesto, uma simples ação de benefício equivale a milhares de palavras, que o vento leva.
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Um exemplo vale mais do que muitos discursos.
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Unidos em propósito! ✨